quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Rápido e é uma rasteira

Um dia voce acorda e percebe que tudo está fora da ordem. Mas que a ordem sempre muda mesmo. Voce não tem mais 18, voce não pode mais fazer drama, voce não tem mais direito a manha. Nunca mais.

Voce cresceu, filha, e o mundo tá batendo forte na sua carinha linda, ainda de menina. Ainda.
Começo a me preocupar com o canto dos olhos e com o futuro brilhante que inventaram e eu acreditei.
A vida cobra e a gente aguenta, a gente vai aguentando. E vai tendo que rebolar, que se enquadrar, já que ilusão não enche mais nada por dentro. Saudades de quando enchia.

Voce percebe que agora é voce por voce mesma. Que voce vai ter, sim, que ser a mulher macho. Que acorda com preguiça, faz o make, sai lindona odiando sair. Mas mete um sorriso, pensa que precisa pensar positivo mesmo que seja tudo mentira, só porque facilita.
Que só voce pode resolver suas pendências, só voce pode se confortar, só voce sabe das suas dores. E elas chegam a nível de complexidade que já dá certa preguiça de explicar. Muita saudade de quando as dores eram levinhas de carregar.

Difícil é entender como foi que chegamos aqui. Cheia de si, mas tão vulnerável por dentro. Tão dura, tão defeituosa, tão insatisfeita.

Mas vai aguentando e vai se fazendo. O melhor caminho é o que a gente faz, porque foi o único que deu pra fazer.

Chega uma hora que a gente aprende que existe um mundo dentro da CPU e que não é tão difícil mexer lá. Que o carro pára, que a bateria acaba e que existe o moço simpático do seguro que vem te salvar numa manhã medonha. E tem a hora de descobrir que é possível fazer baliza com tres homens olhando e sair do carro se sentindo a mais foda das mulheres. Também tem dias que num ataque de fúria matinal voce desce e dá a chave na mão do babaca e manda ele fazer pra voce, já que parece ser um bom instrutor.

Existe gente muito desagradável, gente estúpida, gente escrota, gente ruim. E tem dias que todas elas querem participar da sua desgraça. Mas no outro dia aparecem uns sorrisos francos, umas palavras amigas, umas pessoas legais de verdade.

Um dia a gente entende que os homens não dão mais a vez gentilmente e temos que cavar. Mas quando um dá, nossa, a gente ganha o dia e meio que se apaixona secretamente. Aí voce descobre que os homens te olham com medo de voce perceber, porque voce tem jeito de brava. E é. E foda-se, isso voce não muda. Mas aí aparece um homem que tem coragem de olhar. Aí pronto.

Tem a crise de sair do conforto da casa dos pais. De saber que a morte de quem voce mais ama vai te devastar, mas voce vai precisar ser muito forte. De entender que a lição mais importante que seu pai te deu é não fazer dívidas e dormir tranquila. Eu só tenho aquilo que eu posso pagar na hora. Quanto mais desejo mais frustração. Não é assim tão rígido mas voce passa a considerar boa a idéia de ser feliz com pouco.

Grandes amigos também ficam mais importantes do que muitos e do que muitas outras coisas. Tudo que é muito passa a atrapalhar. Até muita cerveja já não cai bem. Quanto aos amigos, é uma arte manter-se presente. É uma arte aprender a relevar, tolerar, amar apesar e isso fica cada vez mais necessario.

Voce entende que é feita de tristeza também. Muita. Coisa que sempre repudiou. Mas entende que enquanto isso não fizer tão parte de voce quanto a sua alegria, voce será de mentira. E então nem mente mais.

Voce detesta gente reclamona. E aí percebe que se tornou uma ranzinza. E essa é a parte mais difícil de ver no espelho. Então, todo dia pensa que não quer ficar assim e vai pedindo a Deus pra soprar uma brisa e tirar essa marca entre as sobrancelhas. E deseja com todas as forças nunca deixar morrer aquela jovialidade que anda meio caduca.

Nesse dia que voce acordou assim dá uma vontade absurda de realizar suas vontades logo, antes que passe, voce se esqueça ou a vida te consuma. O maior medo é ser consumido pela vida, que engraçado. A vida tem que ser devagar, mas com emoção. Mas sem muita força, por favor. Voce faz as contas pra fazer o curso de fotografia, o pilates, comprar o acordeon, melhorar o ingles, estudar seu autor preferido no curso dos sonhos, fazer a drenagem e o mapa astral. E viajar o mundo todo. O dinheiro mandou lembranças, disse pra voce ter paciencia que um dia rola. Voce sempre tem pena de quem não faz nada que dê prazer e pretende não se esquecer disso.

Voce vai precisar tocar os negócios sozinha, mas é melhor acreditar que os anjos vão dar uma força, porque em voce mesma, de verdade, não acredita muito. Mas é preciso prosseguir.

Porque o melhor de tudo é que a cada dia voce tem menos certezas e mais coragem.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

É isso?

Eis que renasce essa bendita boca formigante a desejar mais, esses meio-sorrisos de pensamentos distantes. E o arrependimento de não ter estado mais inteira, mais eu, mais merecedora de voce.
É isso que acontece quando a gente se encanta?

puff

Tenho andado tão sozinha e tão estranha ultimamente. Dificuldade de diversão, brilho. Já me perguntei se preciso de um psiquiatra, mas existem pílulas para sensação de esvaziamento?
Quando voce quer falar, mas não encontra. Quando sente, mas não tem o suficente pra trasnformar. Quando voce precisa de outra pessoa, mas ninguém pode ajudar. É esvaziamento? Ou será que me perdi de mim mesma?

Como a Bethânia "Eu tenho andado tão sozinha ultimamente, que não vejo em minha na que me dê prazer..."

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Matéria-prima

Em dias assim eu sonho menos. Deixo pra sonhar quando a vida tem mais cor de tédio. Em dias assim não preciso de desculpas. A verdade fica nua e tem uma beleza meio escandalosa, meio histérica. Gosto das verdades, em dias assim.
A verdade que nos tornamos. Quase doce. Doces mesmo são surpresas. São sempre azuis para mim. São pequenos retratos de mim aos olhos do amor.

terça-feira, 28 de junho de 2011

quanto vale ou é por kilo?

Para escorregar basta ter vida. Para chegar naquele limiar da sanidade basta ser um pouco mais fraco que seus desejos. Fraca, sou eu. Covarde estou. Há dias em que acordam-me pedidos dos mais esdrúxulos. Umas vontades de gente maluca a me espreitar na hora do banho. Mas não cedo não. Ainda sou boa na arte de me despistar. Não se deve tentar esconder, esconder-se, conter amor. Amor foi feito pra ser como fumaça de churrasco, empesteando a roupa de quem estiver por perto, defumando as pessoas. Amor foi feito pra viver apesar de. É lírico o amor contido. Mas só é livre aquele que o distribui. Se alguém me nega o amor, me impede as admirações e os cafunés que eu daria, entrego-lhes todos inteiros e melhores para outros. Guardar é para os covardes. Não comprarei megafones, nem espalherei spams por aí anunciando meus sentimentos, mas entregarei a cada um o que lhe cabe. Se quiser levar, leva, é todo seu. Contanto que não fique aqui me pinicando, eu entrego amor por encomenda também.

Sobre aquele que não o quiser, não sabe nada sobre os amores. Amor tem de vários tipos, tem de vários aromas e sabores. Eu gosto dos cítricos. Mas temos também os aguados, aqueles que fluem melhor, sabor de água que mata sede. Acho que temos uma vocação: entregadores de amores.
Entrego aqui todos eles, sem culpa, sem pedaços, sem senãos. Entrego pra ser mais feliz, que peso de amor faz mal demais à saúde. Façamos assim: eu entrego calada e viro as costas (resta ainda um punhado de covardia)  e voce usa como quiser. Não há pacto, só escolhas. O único empecilho são meus olhos, eles não aprenderam a mentir.

sábado, 25 de junho de 2011

Coisas sobre minha infância (que não importam, mas fizeram diferença)

1. Minha mãe cantava isso pra me ninar: http://www.youtube.com/watch?v=gKgEBBUI6U4 e isso: http://www.youtube.com/watch?v=_b9Zj3TXlSo pra me fazer rir. E ela inventava personagens pra falar comigo.


2. Enquanto eu era como todas as meninas e tinha uma pasta de papéis de carta, tinha também uma pasta com fotos, recortes e cartões postais do Egito. Porque aos 5 eu queria ser Arqueóloga.


3. Se alguém me perguntasse o que eu queria ser quando crescesse, dizia "salsicha". Não faço a menor idéia do porquê.


4. Meu avô me levava todos os dias para subir numa árvore torta que tinha na minha rua. Só porque eu adorava subir e ficar sentada lá.


5. Se minha mãe, meu pai ou meus avós fossem me buscar na escola e eu não os visse na hora da saída, eu chorava como se não houvesse amanhã, nem família.


6. Se eu visse um velinho atravessando a rua, eu chorava.


7. Eu não podia ver uma foto minha que começava a chorar e minha avó dizia que era porque eu devia ter nascido gêmea e sentia saudade da irmã.


8. Eu me apaixonei pelo professor de educação física aos 5 anos. Esse amor só acabou aos 7.


9. Aos quatro, eu tinha um namorado que minha mãe chamava de "macarrão da santa casa" de tão branco que era.


10. Quase morri aos seis. Fiquei sem andar por um ano e fui horrivelmente paparicada, ganhando inclusive brinquedos incríveis.


11. Eu morria de vergonha de tudo e ficava amiga fazendo piada.


12. Amava as férias no acampamento. E sempre me apaixonava.


13. Fiz teatro dos 7 aos 12, lá me encontrei e me transformei neste ser cara-de-pau que vos fala.


14. Fiz circo também e era campeã na cama elástica. Um dia estava me apresentando, com toda a família presente, me empolguei no mortal e cai de cabeça na quina da cama, quase chegando ao óbito.


15. Um dia caí da bicicleta em cima de um muro com espinhos e passei dois dias chorando com a minha avó tirando espinho por espinho com uma pinça.


16. Num outro dia, eu corria brincando com a minha cachorra e subi na mesa de jantar de vidro, que escorregou, se quebrou e fincou um vidro gigante na minha perna. Cicatrizes são histórias.


17. Em outro fatídico dia, eu quis dar a volta 360 graus no balanço, mas alguém me chamou quando eu tava lá em cima e eu pulei, dando com a cara no gira-gira e ficando toda estrupiada.


18. Não andava de elevador até os 10. E passava os finais de semana na minha avó, que mora no décimo segundo andar. Se eu apenas sentisse sede ou quisesse um brinquedo, subia de escada, normal.


19. Eu adorava a Beth Carvalho e todo mundo me zuava na escola.


20. Minha bicicleta era uma Cecizinha e eu sofri muito quando a roubaram.


21. As férias em Peruíbe eram mágicas e eu tinha uma casa preferida, ficava horas parada na frente e me imaginava morando lá. Deviam ter muita pena de mim.


22. Meu avô se saiu muito bem quando eu peguei uma revista Veja cuja capa tinha a palavra sexo bem grande, eu perguntei o que era secho e ele disse que era o que fazia a gente ser menino ou menina, o espertinho.


23. Eu gostava de ler romances. Ainda gosto, quanto mais brega mais feliz eu fico.


24. Meu pai gostava de por a gente no carro e ir viajar sem destino. Eu gostava mais ainda.


25. Eu chamava meu pai de Tatu.


26. Eu achava que meus brinquedos saíam pra brincar quando eu dormia.


27. Sim, eu brinquei de médico algumas vezes. Mas gostava mesmo era do frisson do beijo-abraço-aperto de mão.


28. Meu sonho era ter 16 anos. E me lembro de todas as minhas festas de aniversário.


29. Eu usava botas ortopédicas para consertar meus joelhos em X, tinha de várias cores para combinar com os looks.


30. Quando eu queria fazer alguma coisa, eu infernizava os seres humanos resposnsáveis por mim.


31. Eu adorava os parquinhos decadentes da praia e ganhava bolas coloridas gigantes. E meu pai, coitado, botava as bolas e a cachorra no Fiat 147 e subia a serra buzinando pra minha mãe e eu, que acenávamos de dentro do ônibus.


32. Meu pai ia na roda-gigante comigo e se borrava de medo quando eu balançava a cabine.


33. Em uma visita à casa da Conga, aquela mulher que virava macaco, as pessoas saíram gritando e eu fui pisoteada. A sensação foi de morte iminente.


34. Meu avô me levava no mar e me jogava na onda de cima dos ombros dele e dizia: "Olha a espuma de chamapgneee". Eu amava e pedia sempre muito mais.


35. Minha avó fazia batizados para cada boneca nova e a gente fazia bolo para a festa.


36. Meu tio tinha que me levar todo domingo na rua de lazer para andar de motoca. Eu levava a sério.


la la ri rá

Enrolando a gente vai. Cantando a gente distrai. Desviando eu trato de esquecer. E vou conversando com o medo pra ele se acostumar. Que chega uma hora eu guardo medos em gavetas fundas e vou correndo arriscar pra não perder. Coloco o pingente da sorte, reforço o olhar, espirro perfume no ar e entro embaixo. É quando o corpo pede pra dançar.

Vou preferir a música, vou fazer amor em sonho. Janelas floridas me chamam, numa espécie de outra chance. Demoro a mandar embora. Mas se o dia da alma raiar, vou saber que curas são boas só pra quem tem feridas. Ignoro o tempo. Inteireza cansa, vou ali me desfazer em dança.